Tua ausência cala o mundo.
Só há silêncio debruçado nos caminhos. Nenhuma música, buzina ou voz.
Não há flores, gargalhadas, trovões ou gritos. Apenas relâmpagos imaturos que acendem um céu sem lua, sem estrelas, sem chuvas ou qualquer coisa que me tire a atenção da tua falta.
Tua ausência cala o mundo, o mar, os ventos.
Tua ausência desaba silenciosamente sobre meus dias.
Tua ausência é essa substância densa.
Tua ausência é tão presente que é pessoa... e me abraça...


Meu filho, sem você sou apenas metade de mim.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

2 anos sem um pedaço meu


Filhinho amado, hoje se completa mais um ano sem você.
A dois anos você partiu e junto levou consigo um pedaço do meu coração. O pedaço que ficou sangra e chora todos os dias a tua ausência física.
A certeza do reencontro e a imensa fé em Deus nos ajudam a seguir aqui sem você. Porém, não ajudam a diminuir as saudades....
A gente ouve as pessoas dizerem que o tempo cura tudo. Não, não é verdade. O tempo apenas nos ajuda a aprender a viver pela metade.
E é assim que sigo, meu amor, pela metade.
Hoje no escritório a mamãe estava pensando muito em você, imaginando se você também sente minha falta como eu sinto a sua. Então, um tempo depois ao pegar uma pasta no arquivo me cortei e começou a sangrar bem onde fiz a tatuagem de coração em sua homenagem. Filho, é o seu coraçãozinho que também está sangrando como o meu.
Coincidência? Não. Coincidências não existem. Era mais uma das tantas mensagens que você me dá a cada dia, me mostrando que a morte não existe. A separação dos corpos não separa os espíritos, e os nossos estarão ligados por toda a eternidade.
Meu amor, hoje não vou segurar minhas lágrimas, hoje não vou fingir que estou bem, não vou tentar me fazer de forte. 
Hoje vou me entregar à saudade e chorar a sua falta. Chorar por tudo aquilo que sonhei e que nunca irá se realizar. Chorar pelo buraco que a tua partida deixou em nossas vidas, por tudo que perdemos, ainda que temporariamente.
Fefê, a mamãe te ama e sempre te amará. Sei que nosso Pai Celestial cuida de você com o mesmo amor que eu tanto, tanto cuidei.
Siga seu caminho meu anjinho, estou tentando seguir o meu...
Te amo ontem, hoje, sempre.

segunda-feira, 4 de março de 2013

A Travessia

Era início de 2003 quando eu e o Ale decidimos ter nosso primeiro filho. Alguns dias depois, tive um sonho que me marcou muito e que apenas hoje faz todo sentido do mundo.
Sonhei que estava numa lancha e recebi a missão (da qual concordei prontamente) de fazer uma travessia com um bebê até a outra margem de um rio com águas muito revoltas, lá eu deveria entregar esta criança a alguém que viria buscá-la na margem. Enquanto alguém pilotava a lancha eu ia atrás, carregando aquele lindo bebê (um menino) que dormia serenamente no meu colo.
A violência das águas quase virou a lancha por diversas vezes, mas eu agarrava o bebê perto do meu peito e ele dormia sem nada perceber.
Mesmo sem ainda ser mãe, sentia um amor maternal por aquela criança que sabia não ser minha, pois havia recebido a incumbência de entregá-lo assim que a travessia terminasse.
Então chegamos a nosso destino e uma mulher muito serena, com olhar angelical, veio receber o bebê de meus braços. Mas eu não queria entregá-lo, pois sentia por ele um amor que me fazia pensar que aquela criança me pertencia.
Depois de relutar por algum tempo entreguei o bebê àquela mulher bondosa e retornei naquela lancha, aos prantos, me perguntando porque tinha me afeiçoado tão fortemente a uma criança que sabia que não era minha e mais, com quem tinha ficado tão pouco tempo....
Acordei deste sonho com a certeza de que Deus estava me enviando um bebê, e com uma sensação maravilhosa do que era ser mãe. E então, quando fique grávida da Amanda pensei que seria um menino, por conta do sonho tão real que tinha tido.
Os anos passaram, nunca mais havia me lembrado deste sonho.
Em 2009 o Felipe nasceu, em 2011 partiu.
Com toda dor pela perda dele, passava noites me questionando o porquê desta perda tão irreparável, o porquê de Deus ter levado um filho tão amado, tão desejado.
Então um dia, no final de 2012, enquanto chorava  no banho de saudades, aquele sonho que tive em 2003 me veio como um raio de luz, como uma chave de libertação, e então eu pude compreender perfeitamente a mensagem que havia recebido anos antes:
- Eu havia concordado em fazer uma travessia com uma criança que sabia não ser minha;
- Consegui protegê-lo de todos os perigos, fazendo com que ele não sentisse nem medo, nem dor;
- Ao chegar ao destino onde sabia que deveria entregá-lo não queria me desapegar, porque o amor que ele me ensinou era grande demais para aceitar a separação... Mas, ele não era meu.. Lembra-se?
A partir  deste dia tudo mudou para mim, eu entendi a minha missão, eu entendi a missão dele, eu entendi que fiz por ele o que ele precisava e que fui apenas um instrumento para que ele fizesse a travessia que ele e eu precisávamos fazer.
A dor da separação é latente, as saudades são dilacerantes, mas a certeza de que ele está bem guia meus passos cada dia que saio da cama e sigo com minha caminhada que, certamente, terminará lá... onde um dia eu o entreguei com todo meu amor....

Ana Heloísa Z. Negrão